Você já reparou como hoje em dia dever virou algo quase… normal, dívida virou rotina?
Fazer um “empréstimo rápido” no banco ou recorrer a agiotas da praça são coisas que fazem parte do cotidiano de milhões de pessoas. Ninguém se surpreende mais. Pelo contrário às vezes, quem está sem dívidas é que parece “estranho”, mas isso deveria te preocupar!
Mas quando foi que isso se tornou aceitável? Em que momento viver devendo deixou de ser exceção para virar regra?
Tens em mãos um convite para olhar com mais atenção para esse fenômeno silencioso que molda nosso comportamento, afeta nossas escolhas e limita nossas possibilidades: a normalização da dívida.
O Início do Ciclo: Quando o Salário Não Dá Conta
Vamos imaginar a rotina de muitos trabalhadores moçambicanos e de outros países africanos. O salário cai no fim do mês muitas vezes atrasado. A primeira coisa que acontece? Ele vai direto para pagar:
- A conta da luz;
- A renda da casa;
- A parcela do celular comprado a crédito;
- Um empréstimo feito meses atrás para pagar uma despesa médica;
- E claro, a conta do supermercado, que muitas vezes já vem parcelada no contentor local.
No fim das contas, o salário nunca é suficiente. E aí, a solução parece inevitável: fazer mais dívidas.
“Vou pegar só mais um empréstimo. Mês que vem eu resolvo.”
Mas o mês que vem chega, e com ele novas dívidas. É um ciclo vicioso.
O Papel da Cultura de Consumo
A gente é bombardeado diariamente com mensagens dizendo que precisamos ter mais. Ser moderno é ter um bom celular, usar roupas de marca, ter TV a cabo, pedir comida pelo aplicativo, andar com um carro próprio mesmo que seja financiado em 60 meses.
Você já viu aquelas lojas que anunciam:
“Leve hoje e pague só em 3 meses!”
Ou aquelas promoções de eletrodomésticos dizendo:
“Apenas 500 meticais por mês! Nem vai sentir no bolso!”
Mas a verdade é que sentimos sim. E o acúmulo dessas “pequenas parcelas” se transforma num fardo gigantesco.
O problema é que fomos ensinados a medir sucesso pelo que temos, não pelo que somos ou pelo quanto somos livres. E aí, ter dívida virou uma consequência aceitável desse modelo de vida.
Exemplos do Dia a Dia
Vamos olhar para alguns exemplos bem comuns:
1. O Estudante Universitário
Maria tem 22 anos e estuda contabilidade. Ela conseguiu uma bolsa parcial, mas precisa pagar transporte, alimentação e fotocópias. Como os pais não podem ajudar, ela pegou um valor no agiota.
Resultado? Ela ainda nem terminou a universidade e já carrega uma dívida de 45 mil meticais. E o mais preocupante: ela vê isso como “normal”.
2. O Jovem Empreendedor
João abriu uma barbearia com muito esforço. Para comprar equipamentos, fez um financiamento com juros altos. As prestações consomem metade do lucro mensal. Ele vive preocupado em pagar o banco e já pensa em pegar outro empréstimo para quitar o anterior.
3. A Dona de Casa
Helena cuida de três filhos e sustenta a casa com o que ganha vendendo doces. Quando o gás acaba, ela faz fiado. Quando o filho fica doente, ela pega dinheiro com uma amiga. No fim do mês, precisa decidir se compra comida ou paga uma dívida. Essa é a realidade de muitas mulheres que fazem malabarismo para manter a casa de pé.
A Dívida Como Prisão Invisível
O que todos esses exemplos têm em comum?
A dívida vira uma prisão. Mas diferente de uma cela, essa prisão não tem grades. Tem prestações por pagar. Tem mensagens de cobrança no WhatsApp. Tem noites mal dormidas. E o mais assustador? Muita gente nem vê isso como um problema. Afinal, “todo mundo vive assim”, certo?
Por Que Isso É Perigoso
- Afeta a saúde mental: Dívidas geram ansiedade, estresse e até depressão.
- Limita escolhas: A pessoa endividada não pode mudar de trabalho, viajar ou investir em si mesma.
- Reforça a desigualdade: Quem tem dinheiro investe. Quem não tem, paga juros.
- Vira um ciclo geracional: Pais endividados ensinam filhos a repetir o mesmo padrão.
Como Desnormalizar a Dívida?
Desnormalizar não significa demonizar quem está endividado. Significa olhar com mais consciência. Aqui vão alguns passos possíveis:
- Educação financeira desde cedo: Escolas e famílias precisam ensinar sobre orçamento, juros e consumo consciente.
- Cultura do “menos é mais”: Ser minimalista não é ser pobre. É ser inteligente.
- Valorizar quem vive dentro das possibilidades: Não é vergonha comprar roupas em segunda mão ou recusar um crédito tentador.
- Buscar alternativas sustentáveis: Fazer poupança coletiva, criar grupos de troca, aprender sobre investimento.
O Novo Normal Precisa Mudar
Se todo mundo está endividado, talvez o problema não seja a pessoa, mas o sistema. E sistemas só mudam quando as pessoas começam a enxergar o que está errado.
Viver com dívida não é normal. É comum, sim. Mas comum não é o mesmo que certo. Chegou a hora de resgatar um valor antigo que precisa voltar a ser moderno: a liberdade.
E liberdade financeira não é ter mais crédito. É ter menos dívida.
E você? O que tem feito para viver com mais consciência e menos dívidas? Compartilhe sua experiência nos comentários!
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